Bem Vindo ao Blog do PSB da Paraíba! Agradecemos a sua visita.

.

domingo, 2 de março de 2008

Obrigado Ricardo Coutinho


Centro de Referencia em Educação Infantil, uma escola de verdade onde os pequeninos recebem ensinamentos e descansam.


MARCUS ARANHA

Ela nasceu em 1913, em Goiana, Pernambuco. Fim de rama, a única mulher no meio de quatro irmãos homens. A mãe, de prendas domésticas, o pai, senhor de engenho. Ficou órfã de ambos aos cinco anos.
Entregaram-na a uma tia freira, com quem ela foi morar no Colégio Sagrada Família de Olinda.
Cresceu e tiveram de colocá-la em outro internato. Foi pra Academia Santa Gertrudes aos treze anos, de onde só saiu aos dezoito. Viveu infância e adolescência, durante treze anos, entre religiosas, santos e crucifixos. Aí, cursou a Escola Normal de Pernambuco, o equivalente ao superior pedagógico.
Aos 22 anos era professora, só no mundo, à cata de trabalho. Passou a ter crises de asma. Em 1935 veio pra Paraíba, morar com um irmão solteiro numa pensão, pois soube que o Governo necessitava de professoras. E uma mudança de clima talvez lhe curasse a doença.
Fez um concurso, foi aprovada e nomeada, passando a lecionar no Grupo Escolar Isabel Maria. Dizia ela que foi a primeira vez que a vida lhe sorriu...
O Secretário de Educação lhe designou para presidir um inquérito na cidade de Picuí, onde irregularidades haviam sido praticadas no Grupo Escolar da cidade. Concluiu sua tarefa e ficou por lá respondendo pela diretoria da Escola até que nomeassem nova titular.
Aí conheceu Sebastião, escrivão da Coletoria Estadual do lugar. Uma paixão à primeira vista fez com que eles casassem em 1937. Ora, naqueles tempos, uma órfã de pai e mãe arranjar casamento, era mesmo que ganhar na loteria. Pela segunda vez a vida lhe sorria...
Ficou em Picuí, ensinando a ler às crianças. O marido fez um concurso para Coletor Federal, foi aprovado e nomeado para coletoria de Caiçara. Lá se foi ela para mais uma mudança, mas, desta vez alegre pela vitória do marido. O destino lhe surpreendeu: onze anos depois das núpcias, morre o esposo deixando-lhe três filhos homens. E ela começa a viver uma epopéia: professora, 35 anos, viúva, com o encargo de dar de comer, vestir e educar três homens, com dois, seis e dez anos. E a asma piorando, doença que não lhe dá sossego...
Não havia como continuar no Interior do Estado. Conseguiu transferência para João Pessoa e foi ensinar no Grupo General Wanderley, por trás do quartel do 15º Regimento de Infantaria, em Cruz das Armas.
Morava na Torre... As dificuldades financeiras eram tantas que conseguiu que o comandante do batalhão criasse uma espécie de “Mobral”. Passou ensinar soldados analfabetos, à noite, recebendo por isso uma gratificação. Mourejava como professora durante três expedientes! Muitas vezes, o peito chiando pela bronquite asmática, crises atiçadas pelo pó do giz. O comandante, penalizado, mandava um soldado deixar a professora cansada, em casa, num jipe do Exército, às nove e meia da noite. As dificuldades e a asma continuaram...
Em 1952 surge uma vaga para diretora do “Grupo Escolar João Pessoa”, em Tambaú. Dada a distância da praia até a cidade e as despesas com transporte, era difícil achar quem aceitasse o cargo; por isso a Secretaria de Educação oferecia moradia à Diretora, uma pequena casa nos fundos da escola. Ela aceitou na hora. Quem sabe, o ar puro da praia espaçaria as crises asmáticas. E mais, passava a morar no local do trabalho e livrava-se de aluguel de casa. Mais uma vez, começou a trabalhar também à noite, ensinando a ler aos pescadores, através de uma Campanha de Alfabetização de Adultos promovida pelo Governo. A questão financeira foi aliviada, mas o ar da praia não lhe melhorou a asma...
Na casinha gratuita de Tambaú morou bastante tempo, conseguiu educar os filhos e amealhar uns tostões. Veio pra cidade, indo morar ali na Praça do Bispo. Depois de trinta e seis anos de luta, ensinando a ler, abrindo olhos fechados de analfabetos, a professora aposentou-se.
Partiu para o sonho maior: a casa própria! Construiu uma casinha pelo Montepio, o Instituto de Previdência do Estado, em Cruz das Armas. E depois de 25 anos pagando prestações, escriturou a casa em seu nome. Foi quando se lembrou que há muito tempo, mas muito tempo mesmo, a vida não lhe sorria...
Deu aos três filhos a mesma educação. Com os olhos brilhantes e um sorriso no rosto, assistiu términos de cursos e formaturas. E também a casamentos... Alegre viu netos, e riu quando viu os bisnetos. Completou noventa anos, debaixo de seu próprio teto, na casinha de Cruz das Armas, perto do Grupo Escolar aonde veio ensinar quando o marido morreu.
Nesse aniversário, de manhã eu fui pra lá com um perfume e um buquê de rosas. Cheguei calado e do portão avistei-lhe a imagem, sentadinha na cadeira de balanço. Aproximei-me, beijei-lhe a face e os cabelos tão brancos. Ainda silencioso, abracei aquela velhinha. Também já ficando velho, me emocionei e solucei. Só um pouquinho e bem baixinho pra não mexer com o coração dela. Ficamos nós dois abraçados alguns instantes e depois passamos a conversar a manhã inteira, rememorando os pedaços melhores desta história.
Esta saga tão longa que, abusando da paciência dos que me lêem, estou contando, é a historia da minha mãe, a Profª Antonieta Aranha de Macedo, que Deus chamou um mês depois de completar 90 anos.
Quinta feira passada o prefeito da cidade inaugurou uma creche com o nome dela ali no Bessa. Não foi uma crechezinha qualquer, dessas que serve de “depósito” para crianças cujos pais foram ao trabalho. Não! Foi um Centro de Referencia em Educação Infantil, uma escola de verdade onde os pequeninos recebem ensinamentos, tomam banho, trocam de roupa, se alimentam e descansam, durante todo o dia, das 7 as 17 horas. Coisa de Primeiro Mundo!

Tenho certeza que o gesto do prefeito fez o espírito de minha mãe sorrir.

Muito obrigado Prefeito Ricardo Coutinho!Publicado em o CORREIO DA PARAÍBA de 2 de março de 2008

Redes Sociais

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites