O deputado federal Romário (PSB-RJ) conversou, na última semana, com o Portal iG sobre atuação no Congresso nacional, questões ligadas ao esporte, assédio, preconceito e projetos que beneficiam aos jovens, às comunidades carentes e aos portadores de necessidades especiais.
Pretendo ser um deputado que não viva no oba-oba”, disse Romário. Jogador de futebol profissional e campeão mundial em 1994 com a seleção brasileira, ele reconhece que ainda está se adaptando à nova vida. “Tenho de dar satisfação pública para, pelo menos, 150 mil pessoas que votaram em mim. Estou aprendendo a cada dia”, completou.
Na quarta-feira passada, Romário participou da sua primeira votação importante: o aumento do salário mínimo. Integrante da base de apoio ao governo, ele seguiu a orientação do seu partido e votou a favor do valor de R$ 545 contra as propostas de R$ 560 e R$ 600 apresentadas pela oposição.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
iG: Como foram essas primeiras duas semanas no Congresso?
Romário: É bem diferente de tudo que eu vi durante 45 anos. Por outro lado, é um desafio bem interessante. Eu tenho consciência que a minha responsabilidade é diferente hoje. Tenho de dar satisfação pública para pelo menos 150 mil pessoas que votaram em mim. Estou chegando aqui agora. Estou aprendendo a cada dia, mas estou bastante entusiasmado para realizar tudo aquilo que falei que iria realizar.
iG: No seu primeiro discurso, o senhor falou que vai lutar pelas questões do esporte. O senhor já tem alguma iniciativa ou projeto a apresentar?
Romário: No momento, não temos nada finalizado, mas estamos estudando e planejando. Tanto a minha assessoria como a da liderança do PSB. Nós temos conversado muito sobre isso. Eu pretendo ser um deputado que não viva no oba-oba
iG: E como o senhor quer atuar?
Romário: Projetos ligados aos jovens, às comunidades carentes e aos portadores de necessidades especiais.
iG: Além do assédio, o senhor sente uma cobrança maior?
Romário: É uma coisa nova. Eu sou diferente aqui. Na verdade, o Romário é o Romário. É ídolo, jogou muitos anos, defendeu várias camisas de clubes diferentes. É natural que esse assédio, que essa cobrança exista.
iG: Por exemplo?
Romário: Por exemplo na votação do projeto de aumento de salário mínimo (...) Eu fui, na hora de votar, a dois lugares (mesas onde o deputado registra o voto) . E, em uma delas, o meu código não estava sendo aceito. Aí aparece no jornal: ‘Romário tem dificuldade para votar’.
iG: Acha que é preconceito, pelo fato de ter sido jogador e hoje ser político?
Romário: Não sei se é preconceito. Acho que é porque eu dou notícia. E principalmente esse tipo de notícia... Não sei se negativa. Se você colocar Romário tem dificuldade para votar e colocar o motivo não tem nada negativo. O problema é que coloca ‘Romário tem dificuldade para votar’ e não esclarece o motivo. Eu vi outros deputados com dificuldade para votar. O código também não estava entrando. E não deram notícia. Mas isso aí (cobrança) eu já estou acostumado há 25 anos. Faz parte da minha vida. Para mim não é novidade.
iG: Com o tempo, não acha que as coisas vão ficar naturais?
Romário: Tenho bastante consciência que as pessoas vão se acostumar. Vai ser mais natural o Romário como deputado. Acho que isso vai durar um tempo. Isso significa que eu sempre tenho de estar mais atento que os outros.
iG: Qual foi a impressão que o senhor teve da sessão de votação do salário mínimo?
Romário: É a primeira vez que eu participo disso. Então nem posso dizer se era normal ou se não era. Não tenho experiência, mas é uma coisa bem democrática. Foi uma sessão onde todos puderam emitir sua opinião. Não sei como era a atuação dos presidentes, mas o presidente atual (Marco Maia, do PT-SP) dá muita oportunidade para todos. E isso foi uma coisa muito positiva.
iG: No futuro o senhor pretende participar do debate?
Romário: Na verdade, quando for da minha área e eu estiver sabendo do assunto, você me verá ali debatendo, dando a minha opinião. Até porque eu tenho esse direito.
iG: E o futebol carioca tem acompanhado?
Romário: Eu participei do futebol durante 45 anos. A minha obrigação, a partir de agora, é aprender o que está relacionado à vida parlamentar.
iG: Mas e quando o senhor não está trabalhando?
Romário: Vejo, acompanho (o futebol). Eu sou América. É meu time no Rio de Janeiro. Eu estava no América, mas sai por causa da política. O time está passando por um momento difícil. Eu até me propus ir lá de novo. Ajudar um pouco mais. Eu gosto de futebol, gosto do América. O futebol está no sangue.
iG: O senhor é o primeiro campeão mundial de futebol recente a atuar como deputado. Outros jogadores tentaram e até dirigentes, como Eurico Miranda (ex-presidente do Vasco) também passaram por aqui. Como o senhor tenta se diferenciar?
Romário: Não adianta muito eu falar para você como eu vou fazer. Comigo você e os seus colegas terão um cara sempre sincero. Se tiver uma notícia negativa... Se me perguntarem se eu fiz aquilo errado, eu vou falar. Mas eu espero que você escreva realmente o que seja verdade. Eu vou dar a notícia, independentemente que seja negativa ou positiva. Eu vou dar a verdade. Em relação ao que você me falou (sobre como pretende se diferenciar), eu prefiro mais atuar do que ficar falando o que eu vou fazer.