No último sábado (13), completaram-se seis anos da partida de um dos maiores líderes da política e do socialismo brasileiro, Miguel Arraes de Alencar. Arraes, o guerreiro do povo brasileiro, foi o último representante de uma geração que marcou a história recente do país, ao lado de Tancredo Neves, Leonel Brizola e Ulysses Guimarães. Ex-governador de Pernambuco por três mandatos, presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) de 1993 a 2005 e deputado federal – também por três mandatos –, Arraes foi forte referência para a esquerda brasileira.
Para o presidente Nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, – que é neto de Arraes e o acompanhou em grande parte de sua trajetória política – “Dr. Arraes foi um dos grandes brasileiros que contribuíram para que o país fosse hoje mais igual. Dedicou sua vida às causas do povo, sem nunca mudar de lado, nem de conversa”,
"Ainda que todo homem seja implacavelmente de sua época e de seu lugar, Arraes, o mais cearense dos pernambucanos e o mais brasileiro dos nordestinos, era, acima de tudo, um homem do mundo (que procurava mudar) e de todo tempo, pois seu compromisso era com o futuro", afirmou o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.
“Miguel Arraes sempre será lembrado por sua dedicação e comprometimento em melhorar a vida da população, sobretudo daqueles menos favorecidos. Com ele aprendemos que o que importa na política – e na vida – são os posicionamentos que se tomam. Tenho o orgulho de dizer que Miguel Arraes sempre foi um exemplo de ética, dignidade e coerência, um homem que sempre colocou sua vida em prol dos mais necessitados, fazendo da política uma ferramenta para levar mais qualidade de vida ao povo sofrido do Nordeste. Daí seu merecido apelido de guerreiro do povo brasileiro. E é esse o legado que carregamos a cada dia. Dizem que a saudade passa com o tempo, mas nesse caso, só aumenta. Sinto sua falta e, muitas vezes, sinto a necessidade de conversar com ele. Tenho certeza que ele está vendo, com alegria, nosso Pernambuco. Nosso Estado mudou para muito melhor e ele tem grande participação nisso”, declarou a líder do PSB na Câmara dos Deputados, Ana Arraes.
"Miguel Arraes foi, sem, dúvida, uma das maiores lideranças políticas brasileiras. Dedicou sua vida à luta pela democracia, pela liberdade, pela justiça social, projetando-se nessa trajetória como uma das mais importantes personalidades da politica do Nordeste e do Brasil no século XX. Amado pelo povo, querido pelos seus eleitores e respeitado pelos adversários políticos, Arraia, como era carinhosamente chamado pelo povo pobre do Nordeste, não mediu esforços para consolidar o Partido Socialista Brasileira, lutando para fazer de nossa legenda um instrumento de transformação social e de defesa dos interesses nacionais. Sua ausência deixou uma lacuna na vida política, mas deixou exemplos de dignidade, de conduta ética e de coragem cívica, cuja trilha está sendo seguida por seus descendentes, como Eduardo Campos e Ana Arraes, de cujas atuações o PSB muito se orgulha. A melhor maneira de homenagear Miguel Arraes é continuar sua luta por um Brasil melhor, mais justo e socialmente equilibrado. Esse é o nosso desafio", enfatizou o líder do PSB no Senado, Antonio Carlos Valadares.
"Um homem que, como poucos, foi conhecedor de sua terra e de sua gente, que lutou arduamente para conduzi-las a um novo patamar de consciência, de dignidade e de desenvolvimento. Homem de diálogo e de profundas convicções humanísticas, arguto no conhecimento da realidade do Brasil e do mundo, sempre atento e promotor do verdadeiro sentido das mudanças sociais, políticas e econômicas. Miguel Arraes, teve um profundo senso prático e consciência de limitações do poder que chegou a alcançar e, não podendo realizar as transformações estruturais pelas quais sempre lutou, soube, como ninguém, atar as feridas desta parcela da humanidade que existe no Nordeste e na terra de Abreu e Lima, em Pernambuco, e sobre elas lançar um pouco de azeite e de vinho para mitigar o sofrimento dos desamparados", lembrou Carlos Siqueira, presidente da Fundação João Mangabeira e primeiro secretário Nacional do PSB.
“Miguel Arraes é o símbolo da luta do povo brasileiro pela construção de um Brasil melhor. Para mim, Miguel Arraes foi um mestre. A partir da minha convivência com ele, minha trajetória política se ligou de forma muito forte e definitiva com os anseios da população mais pobre do Distrito Federal e do Brasil. Algumas coisas me impressionaram muito em Miguel Arraes. Uma delas foi seu compromisso com o povo. Outra foi seu desejo de construção de um projeto nacional. Já com idade avançada, Miguel Arraes continuava sempre com os olhos e o pensamento voltados para o futuro. Para nós do PSB, é um privilégio ter tido um líder como Miguel Arraes. E também uma imensa responsabilidade de ter o compromisso de continuar trilhando o seu caminho", declarou o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
Trajetória
Nascido em 15 de dezembro de 1916 em Araripe (CE), Arraes teve forte atuação na política regional pernambucana. Foi para o Rio de Janeiro estudar direito em 1932. Iniciou sua vida pública em 1947, indicado por Barbosa Lima Sobrinho para a chefia da Secretaria da Fazenda pernambucana pelo ex-presidente do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool).
Elegeu-se governador em 1962, com 47,98% dos votos, pelo Partido Social Trabalhista (PST), apoiado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e setores do Partido Social Democrático (PSD), derrotando João Cleofas (UDN) — representante das oligarquias canavieiras de Pernambuco.
Com o golpe militar de 1964, tropas do IV Exército cercaram o Palácio das Princesas (sede do governo estadual). Foi-lhe proposto que renunciasse ao cargo para evitar a prisão, o que prontamente recusou para, em suas palavras, "não trair a vontade dos que o elegeram". Em conseqüência, foi preso na tarde do dia 1º de abril. Deposto, foi encaminhado para as prisões da Companhia da Guarda e do Corpo de Bombeiros, no Recife, e da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Libertado em 25 de maio de 1965, exilou-se na Argélia.
Exílio
Concedido o habeas corpus, Arraes foi orientado por seu advogado, Sobral Pinto, a exilar-se, sob pena de voltar a ser preso pela ditadura. Após recusa da França em recebê-lo, Arraes cogitou pedir asilo ao Chile - neste país, entretanto, houve pouco tempo depois o golpe militar de Pinochet. Sem escolha, Arraes tomou a Argélia como destino. Parecia até proposital, pois a Argélia tinha problemas sociais parecidos com os do Brasil.
Durante o exílio, foi condenado à revelia, no dia 2 de março de 1967, pelo Conselho Pernambucano de Justiça da 7ª Região Militar. A pena, de 23 anos de prisão, foi pelo crime de "subversão".
Anistia
Em 1979, volta ao Brasil e à política. Elegeu-se deputado federal em 1982, pelo PMDB. Em 1986 vence as eleições para governador de Pernambuco, ainda pelo PMDB. Seu governo foi caracterizado por programas voltados ao pequeno agricultor, como o Vaca na corda, que financiava a compra de uma vaca e o Chapéu de palha, que empregava canavieiros no período de entre-safra, na construção de pequenas obras públicas. Outro ponto central foi à eletrificação rural. Esse trabalho serviu de referência para a implantação, décadas depois, do programa "Luz para Todos", do governo federal. Ele também apoiou sindicatos, associações comunitárias e ligas camponesas, transformando-se em um mito para os populares que o chamavam carinhosamente de "Dotô Arrai" e "Pai Arraia".
Em 1990, filia-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). É eleito mais uma vez governador em 1994, aos 78 anos. Em 2002, com 86 anos, vence sua última eleição, elegendo-se o quarto deputado federal mais votado do estado de Pernambuco. Neste seu último mandato como deputado federal fez parte, junto com os integrantes de seu partido, o PSB, da base aliada do governo do presidente Lula, sendo responsável pela indicação de ministros que iriam ocupar o Ministério da Ciência e Tecnologia na primeira gestão de Lula, destacando-se na função seu neto e herdeiro político Eduardo Campos, atual governador de Pernambuco, também pelo PSB.